terça-feira, 4 de maio de 2010

Entrevista com Daniela Thomas, cineasta e cenógrafa*


Cenógrafa, roteirista, cineasta. Premiada em todas as áreas nas quais atuou. Engana-se quem pensa que Daniela Thomas já fez de tudo. Pelo contrário, ela está cheia de projetos e em todos sente-se como uma novata, com muita energia e pronta para novas descobertas. Filha de Ziraldo e esposa do diretor de teatro e dramaturgo Gerald Thomas, respira arte desde a infância.

O trabalho como cenógrafa ajudou as suas demais atividades?
A facilidade de pular de uma área para a outra está relacionada à maneira pela qual fui criada, no estúdio do meu pai (Ziraldo), que é jornalista, autor infantil e adulto, um show man. Nesse estúdio era muito feliz e não havia distinção entre adulto e criança. Fui influenciada por essa liberdade de criar. A cenografia me deu uma preocupação estética apurada. Mesmo que uma cena esteja emocionante, deve haver (em mim) uma quedinha pelo melhor enquadramento.

Credita-se a Central do Brasil o renascimento do cinema nacional. Você concorda?
Eu acho que sim. O Central acendeu a luz do Brasil no exterior e para os brasileiros. Fez as pessoas despertarem para um filme feito, criado e desenhado no Brasil; que emocionaria e traria novas reações a um público acostumado com o cinema americano. Também abriu as portas para Cidade de Deus, Tropa de Elite e para outros filmes, inclusive o Linha de Passe.

Você acredita que existe preconceito com o cinema nacional?
Cada vez menos. Conversando com o pessoal do Espaço Unibanco, perguntei o que as pessoas estão vendo e me disseram que nessa semana só dava Se eu Fosse Você 2 e Divã. Estamos tentando encontrar a nos- sa voz, ao mesmo tempo criativa, original e que converse com o público. Não fazemos cinema americano e nem queremos, o que é legal. É um cinema cada vez mais próprio, particular. Somos a primeira geração de autores livres, o cinema vai ficar cada vez mais bacana.Linha de Passe deu o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes para Sandra Corveloni... O Festival de Cinema de Cannes recebe de 2 a 5 mil filmes por ano. Ser selecionado entre os 22 que competem já é ótimo. Quem seleciona são pessoas muito criteriosas e conhecedoras de cinema. São mestres da sétima arte. Eles estão muito antenados com a gente. Estão aguardando o nosso cinema.

Conta um pouquinho sobre a parceria com Walter Salles.
A gramática do cinema para o Walter é a coisa mais natural do mundo, como construir uma série de planos que se encaixam e potencializam a emoção de uma cena. Para mim, isso é muito difícil. Tenho mais facilidade de criar um momento emotivo, de lidar com os atores, de criar as sequências, os momentos de emoção do ator. Esse casamento profissional é muito azeitado. Eu me meto muito na câmera e o Walter, com os atores. É difícil dizer onde uma pessoa começa e onde a outra termina. Nosso cinema é colaborativo.

Como está o mercado para quem quer seguir carreira no cinema?
Melhor que nunca. A comunicação é a coisa mais importante que existe e o mercado só faz aumentar. Lógico que quanto mais competição, mais difícil é, mas acho que estamos em um bom momento para quem quer participar do grande boom do vídeo, do cinema, do
teatro e dos eventos. Mas é preciso ter vontade e infinita curiosidade. Fazer perguntas é tão bacana quanto responder. Não perguntar o óbvio e buscar respostas diferentes.

*Adaptado do original publicado no jornal A Tribuna em 2 de maio de 2009.

Um comentário:

  1. Não concordo muito quando ela diz que o mercado cinematográfico está em boa fase, e ainda tenho reservas quanto a esta "teoria" da renovação do cinema Nacional depois da Central. Não desmerecendo ninguém e tb não querendo me fazer de entendido do assunto, ainda acho que o cinema brasileiro sofre com a falta de investimento, credibilidade e com certa monopolização.
    Mesmo assim torço e aposto no nosso cinema como um pólo emergente e ainda vamos quebrar as barreiras para se enquadrar com respeito no cenário mundial.
    Mais uma vez, matéria nota 10 Patrícia!

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