quinta-feira, 21 de abril de 2011

Entrevista: João Carlos Martins, maestro



Aos 70 anos, o maestro João Carlos Martins é uma pessoa repleta de histórias para contar. Com seu largo sorriso e bom humor, cativa os que o cercam. Após um Carnaval vitorioso, com a escola de samba Vai-Vai e o enredo A Música Venceu, engana-se quem acha que ele vai descansar. Pelo contrário. Depois de sua história invadir o sambódromo, estará na telona. O filme João, de Bruno Barreto, começa a ser rodado em meados do ano que vem.

A crítica internacional o considera um dos maiores intérpretes de Bach da história. O senhor se vê assim?
Eu acho que há grandes intérpretes da obra de Bach. Eu diria que estou entre os Top Five (risos).

O senhor estudou regência após sonhar com o maestro Eleazar de Carvalho (no sonho, Carvalho o incentivava a se tornar maestro, já que os médicos não o deixavam mais tocar piano). Que lembranças guarda dele?
Ele foi o maior regente do Brasil. O filho dele, Sergei Eleazar de Carvalho, é meu assistente na Bachiana. Eleazar foi, talvez, uma das maiores personalidades que conheci e o único que regeu as grandes orquestras do mundo. Ele foi exemplo para o Brasil pela coragem, determinação e talento.

O senhor costuma levar a sério alguns sonhos? É espiritualista?
Apanhei muito nesta encarnação porque devo ter aprontado muito na penúltima.

Se arrepende de alguma coisa?
Me arrependo de ter me envolvido, 20 anos atrás, com política (ele trabalhou na campanha de Paulo Maluf para o governo de São Paulo, em 1990, com a perspectiva de se tornar secretário de Cultura. Acusado de fornecer notas frias para justificar gastos de campanha, foi absolvido pelo Supremo Tribunal Federal). Não podia tocar piano na época, mas foram dois anos que considero desastrosos para mim. Faz parte da vida. Você tem que ter a esperança no teu futuro.

Todo mês,o senhor faz concertos para cidades de até 10 mil habitantes...
Nesse ano já fiz em Taquari (RS), cidade com 8 mil habitantes, e Estrela do Sul, a 120quilômetros de Uberlândia (MG).

Qual o objetivo dessas apresentações? Como o senhor vê a receptividade de pessoas que não têm acesso a esse tipo de apresentação?
Quando você chega com a orquestra, parece que para a Cidade. De repente, quando acaba o concerto, você percebe pessoas chorando. Você fica uma, duas horas, porque tem que dar autógrafos, tirar fotos, dar beijos. Quando chego na Cidade digo: ‘músicas que vocês estão ouvindo hoje, daqui a dez anos você nem vão saber mais. Mas eu vou cantar o primeiro compasso de uma música escrita há 250 anos e vocês vão cantar o segundo’. Todo mundo fica olhando pra mim. E eu faço: ‘pan/ pan pan/ pan pan pan pan pan pan’ (Eine Kleine Nachtmusik, de Mozart). E todo mundo: ‘pan/ pan pan/pan pan pan pan pan pan’.

O senhor pensou algum dia em desfilar em escola de samba?
Quando a Vai-Vai me convidou para ser o enredo, não aceitei. Falei que iria prejudicar a escola, porque achava que eles corriam sérios riscos. Um diretor da Globo falou para eu aceitar, que era muito importante. Eu fechei. Vamos para o 14º campeonato! Um dia antes do desfile, no dia 4, pediram que eu fizesse um discurso. Eu falei: ‘a coincidência foi a melhor coisa que aconteceu. Pra ganhar concursos de música, o meu dia de sorte é o dia 5”. Perguntaram: ‘Qual concurso o senhor ganhou no dia 5?’. Respondi: ‘Amanhã’.

Um dos pontos altos do desfile foi o senhor regendo a bateria. Quais as diferenças e semelhanças entre uma orquestra e uma bateria?
Foi a primeira orquestra que regi sem ninguém olhar pra mim. Se olhasse, atrapalharia. Fiz um gesto clássico, acompanhando a melodia. Fizemos um casamento. Era o romantismo de uma música clássica ao lado da bateria de uma escola de samba. Praticamente uma figuração.
Há perguntas que, de tanto terem sido feitas, você não aguenta mais responder?
Não. Sempre me perguntam da história das mãos. Nunca falo não em uma entrevista. Você não deve analisar o que aconteceu na tua vida, mas a responsabilidade do jornalista de ter a informação correta. Sempre respondo com o maior carinho e procuro mostrar que a resposta está sempre baseada na verdade. Agora vem o filme da minha vida, dirigido pelo Bruno Barreto. O nome do longa começou com o pé direito: João. Em princípio, quem vai me representar é o Rodrigo Santoro e as filmagens devem começar no meio do ano que vem.

Há alguma previsão de estreia?
Procuro fazer o melhor, o Bruno Barreto também. Pode ser que a estreia seja em Nova York, simultaneamente ao Brasil.

As conversas para este filme ocorreram antes do desfile da Vai-Vai?
O roteiro já está sendo feito. Li algumas partes. Está maravilhoso. Um roteiro emocionante, onde eu só apareço no final do filme, tocando com três dedos no Carnegie Hall e vem o letreiro que é uma história real.

Com toda a sua história de vida, é comum as pessoas já esperarem que se emocione...
Sou um chorão. Eu me emociono em público e sozinho. No dia do desfile, às 23h30, entra a Unidos do Peruche, nossa concorrente, com um enredo fortíssimo, o Teatro Municipal de São Paulo. Aí vejo que um carro não está conseguindo entrar. E vejo as pessoas daquele carro que não puderam entrar na avenida. Eu comecei a chorar. Eles são concorrentes nossos, mas deram a vida durante um ano para entrar na avenida. É o meu jeito. Passei batido pelas adversidades que me atingiram as mãos. Nunca foram um problema para mim. Mas das dores que atingiram a alma, talvez, eu não tenha me recuperado totalmente e fiquei uma pessoa muito emotiva. Quando estou regendo, conforme a peça, eu me emociono e choro.

Já que a música venceu no Carnaval e venceu na sua vida, quais são os seus projetos?
Prometi daqui a dez anos formar mil orquestras jovens no Brasil. Essas orquestras vão fazer a diferença do Rio Grande do Sul ao Amapá. E no segundo ano, as 150 primeiras vou reger, possivelmente, do MASP, da Avenida Paulista, via internet. Todas tocando juntas. E aí você mostra como o Brasil se encontra por meio da música.






*Entrevista publicada no jornal A Tribuna em 2 de abril de 2011.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Agenda Cultural Santista - Programe o seu fim de semana

Sexta

Costelaria no Rolete, às 20 horas
O músico Cesar Santos se apresenta, a partir das 20 horas.
A Costelaria no Rolete fica na Avenida Pinheiro Machado, 856, Marapé. Informações:(13) 3225-6258. O couvert artístico custa R$ 3,00.

Bar do Torto, a partir das 23 horas
O Torto traz de volta os músicos que fizeram parte da história do bar. A programação abre com Julinho Bittencourt e Roberto Biela. Logo em seguida, tocam João Maria, Fernando Rebelo, Ayrthon Boka e Delcinho. No repertório música brasileira de várias épocas e tendências.
O Torto Bar fica no Canal 4 esquina com a praia. Informações e reservas: (13) 3324 5554


Bikkini Barista, a partir das 23 horas
O Bikkini Barista faz pela primeira vez a festa Black & White, com traje obrigatório branco ou preto. O DJ Bruno Boturão cuidará da parte de Hip Hop e Black Music. A noite terá ainda House Music com os DJs Marcelo Nascimento e Di Franco
O Bikkini Barista fica na Rua XV de novembro, 94/96, Centro. Ingressos: R$60 (homens) e R$ 40,00 (mulheres). Informações: (13) 3219-3116

Sábado

Sesi Música 2011, às 20 horas.
O violoncelista grego radicado no Brasil Dimos Goudaroulis é a primeira atração do projeto SESI Música 2011 - Erudita. O repertório do músico destacará três Suites para violoncelo solo do compositor alemão Johann Sebastian Bach.
O SESI Santos fica na Avenida Nossa Senhora de Fátima, 366, Jardim Santa Maria. Entrada franca. Informações: (13) 3209-8230. Classificação: livre.

Costelaria no Rolete, às 20 horas
O músico Leandro o Ramajo toca na casa os ritmos brasileiros.
A Costelaria no Rolete fica na avenida Pinheiro Machado, 856, Marapé. Informações: (13) 3225-6258. O couvert artístico custa R$ 3,00.

Metrópole Restaurante e Café, a partir das 23 horas
A casa apresenta show com General Tequila e DJ Nall, pela primeira vez juntos em Santos. A balada promete animar a galera com o Rock`n Roll tocado pela banda, que completa dez anos de estrada este ano.A General Tequila tocará sucessos que vão desde o pop dos anos 80 até o metal progressivo. Ninguém ficará parado também quando Dj Nall dominar as pick`ups da noite.
O Metrópole fica na Praça da República, 50, Centro. Informações: (13) 3223-2403. Preços: Mulheres até meia- noite e meia, R$15 consumíveis. Após, R$17,00 com R$10,00 em bônus de consumação.Homens: R$28,00 com R$ 15 em bônus de consumação.

Bikkini Barista, a partir das 23 horas

Muito rock e pop com a banda Mr. Burns. A banda formada pelo baterista Adriano Figueiredo, pelo guitarrista Igor Pavani, pelo baixista Tito e pelo vocalista Daniel Marx no primeiro ano de vida fizeram 140 shows. Atualmente é presença certa nos principais bares, pubs e casas noturnas de São Paulo, ABC, interior e Minas Gerais.

O Bikkini Barista fica na Rua XV de novembro, 94/96, Centro. Ingressos: R$60 (homens) e R$ 40,00 (mulheres). Informações: (13) 3219-3116

Domingo

Exposição fotográfica, mostra de carros antigos e música brasileira no Quinta da XV - almoço
A Rua XV de Novembro terá um dia dedicado à cultura. O evento é promovido pelo Restaurante Quinta da XV em frente ao estabelecimento, localizado no número 18 da via. A exposição fotográfica Trilogia das Cores de Santos: Dourado, Azul e Cinza, organizada por 18 repórteres fotográficos de veículos de comunicação da região, mostrará a cidade a partir dessas três tonalidades, em diferentes ângulos e diversos olhares de Santos.
Irão expor seus trabalhos os fotógrafos: Alberto Marques, Rogério Soares, Irandy Ribas, Vanessa Rodrigues, Fernanda Luz, Davi Ribeiro, Alexsander Ferraz, Edison Baraçal, Luigi Bongiovanni, Nirley Sena, Alberto Ferreira, Tadeu Nascimento, Re Sarmento, Fred Casagrande, Marcelo Justo, Paulo Freitas, Stefan Lambauer e Guilherme Dionizio. Na mostra de carros, promovida pelo Clube dos Automóveis Antigos, relíquias dos anos 20, 30, 40 e 50 poderão ser apreciadas pelos visitantes em parte da via. As exposições, gratuitas, começam às 9 horas e se estendem por todo o dia, até as 17 horas. Na fachada do restaurante, as bordadeiras do Morro São Bento vão expor seus tradicionais trabalhos e haverá show do Choro de Bolso, com os músicos Marcos Canduta e Débora Gozzoli. A iniciativa faz parte da proposta do chef José Paiva, proprietário da casa, de incentivar a movimentação do Centro Histórico de Santos aos finais de semana. O evento tem o apoio da Secretaria Municipal de Turismo (Setur), da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), do Departamento da Administração Regional do Centro Histórico (Dear-RCH) e do Clube dos Automóveis Antigos.

O Quinta da XV fica na Rua XV de Novembro, 18. Informações: (13) 3219-4280

Costelaria no Rolete, das 13 às 17 horas
O músico Diogo Santos, integrante da Banda Trilha Sonora, traz no seu repertório do show, os sucessos do sertanejo universitário.
A Costelaria no Rolete fica na avenida Pinheiro Machado, 856, Marapé. Informações: (13) 3225-6258. O couvert artístico custa R$ 3,00.


Oscar Filho apresenta Putz Grill... no Teatro Coliseu, às 19 horas
O ator, humorista e repórter do CQC, Oscar Filho, está de volta. O show de stand up comedy Putz Grill... aborda diversos temas de sua vida pessoal e do cotidiano de uma forma hilária, aguçando com muita criatividade a imaginação dos espectadores. Prestes a completar três anos de estrada, “Putz Grill...” já passou por mais de 80 cidades brasileiras e foi visto por mais de 140 mil pessoas.
Serviço: O Teatro Coliseu fica na Rua Amador Bueno, 237, Centro. Entradas inteiras custam de R$ 40,00 a R$ 60,00. Classificação: 14 anos. Informações pelo telefone (13) 4062-0016.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Pop Art em Sampa


Atenção, seguidores de Andy Warhol! Em São Paulo, está rolando uma exposição de pop art do artista plástico Rodrigo Lima.

Com temas consagrados pela publicidade, a exposição Pop Brasil exibe, até 30 de abril, referências que fazem parte da cultura popular brasileira.

Ícones como Palitos Gina, Pó Royal, Sandálias Havaianas, além de nomes como Silvio Santos, Elis Regina, Pelé, entre outros, são retratados em telas com tinta acrílica em cores fortes e brilhantes.

A Pop Art com reprodução mecânica e múltiplos serigráficos, retratam diversos temas comuns do cotidiano e artigos de consumo, com o intuito de eliminar a distância entre a arte erudita e a popular.

Serviço:
Mix & Match loja- galeria de arte
Exposição Pop Brasil
Al. Lorena, 1966 – Jardins
Horário: de segunda a sexta, das 10h às 19h e aos sábados, das 10h às 18h.
Entrada Gratuita

segunda-feira, 21 de março de 2011

Tudo (quase) fechado para a Tarrafa Literária 2011

Prepare-se para a pesca! A terceira edição do Festival Internacional Tarrafa Literária já tem data e local marcados: de 24 a 28 de agosto, no Theatro Guarany. Cerca de 40 escritores participarão do evento, que neste ano será maior: estão previstas dez mesas, contra nove do ano passado. Serão duas na quinta e na sexta-feira e três no sábado e no domingo.

"Sentimos que há autores interessantes e assuntos para diversificar. Nós queremos aproveitar ao máximo o evento. Por isso, aumentamos o número de atrações", afirma o idealizador da Tarrafa Literária e proprietário da Realejo Livros, José Luiz Tahan.


A programação está quase fechada. Tahan prefere manter alguns nomes em segredo, mas entrega que o escritor irlandês Ian Sansom está confirmado. Ele é o autor do livro A Verdade sobre os Bebês de A a Z (Editora Barracuda). Sansom vem ao Brasil especialmente para participar do festival caiçara.





O jornalista e escritor Laurentino Gomes, autor dos best-sellers 1808 e 1822, estará de volta ao evento, do qual participou em 2009. A poesia também ganha espaço na Tarrafa deste ano. O gênero literário terá uma mesa específica para debatê-lo.

"Começamos buscando os assuntos que gostamos de abordar, como futebol e a cultura boêmia, de forma a cultivar leitores de um jeito que fuja do solene e do acanhado", explica o organizador do evento.Sobre o show de abertura, Tahan apenas disse se tratar de "um grande nome da música brasileira".

Um conselho define o que vai acontecer na Tarrafa. Além de Tahan, fazem parte Matthew Shirts, jornalista; Eduardo Sanovicz, professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo. Também integram o conselho Estela dos Santos Abreu, que é tradutora e acadêmica; e o jornalista Roberto Muylaert, vice-presidente da Associação Nacional de Editores de Revistas. Mas sugestões são sempre bem-vindas. Internautas fazem pedidos via Twitter ou Facebook.

"A Tarrafa já está no circuito dos maiores eventos literários realizados no Brasil. Vem gente da Capital e de outras cidades prestigiar. É um evento consolidado", diz Tahan, que espera um aumento ainda maior de público.

Na primeira edição, em 2009, a Tarrafa atraiu 80 espectadores. Já no ano passado, por volta de 2 mil pessoas prestigiaram o evento no Theatro Guarany. Os organizadores do festival literário estudam para este ano a cobrança de ingresso, "para criar um compromisso". A proposta de doação de livros usados continua.

"É muito simpático libertar o livro, levá-lo para bibliotecas. Mas devemos estabelcer um valor pequeno, talvez R$ 10,00 para quem não levar o livro e R$ 5,00 para quem fizer a adoação, preço que também será adotado com estudantes. Mas esse valor ainda não está fechado, precisa de estudos".

Público infantil
A Tarrafinha, com várias atividades lúdicas para crianças, continua com a programação gratuita que a consagrou. "A ideia é trabalharmos um livro por dia. É feita uma adaptação livre daquela obra, às vezes mudical, de teatro, contação de história. A gente convida o autor para assistir à adaptação e dar autógrafos", comenta o livreiro.

O objetivo é promover o prazer da leitura entre os mais jovens, não importando o meio que eles utilizem - seja o livro ou um e-reader. "O importante é cuidar da vontade de ler. Não podemos hostilizar o que está chegando. Eu acho que haverá uma boa convivênmcia entre o livro e o e-reader".

Tahan já pensa na edição de 2012 da Tarrafa Literária. Afinal, ao término da deste ano terão início os convites para os próximos autores, especialmente os estrangeiros. "Eles se pautam em mais de meio ano. São bastante planejados. Estamos tentando o Jean-Claude Carrière (roteirista, escritor, diretor e ator francês)". Se não der para este ano, o convite permanece para 2012.

* Publicado no jornal A Tribuna em 5 de março de 2011.

domingo, 20 de março de 2011

Paulo Soláriz entrega escultura inspirada em Ayrton Senna

Amanhã, Ayrton Senna completaria 51 anos. E na 2ª Semana Cultural da Velocidade (Velocult), exposição sobre automobilismo que segue no Espaço Cultural do Conjunto Nacional, em Sampa, o artista plástico e designer Paulo Soláriz (também curador da mostra) entregará uma escultura que fez para celebrar um dos maiores ídolos do automobilismo.

Ayrton Senna 50 Anos é uma peça com formas fluidas e clean, cheia de significados especiais, a exemplo do símbolo em representação do infinito localizado em seu centro. A escultura segue exposta até a data em que o evento se encerra e, posteriormente, será entregue pessoalmente por Soláriz a Viviane Senna, irmã de Ayrton e fundadora do Instituto Ayrton Senna, na sede da entidade.


Mostra
A escultura se juntará na exposição aos cerca de 15 carros que marcaram história nas competições brasileiras, obras de arte, painéis fotográficos e objetos pessoais de pilotos, com destaque para os capacetes utilizados por Senna em algumas de suas glórias na Fórmula 1.


Serviço
A 2ª Semana Cultural da Velocidade se estende até 2 de abril. O Espaço Cultural do Conjunto Nacional fica na Avenida Paulista, 2.073. A entrada é gratuita.
* As informações são da assessoria de imprensa.

domingo, 13 de março de 2011

Exposições em Sampa mostram a arte islâmica



Mais de 14 séculos de história e cultura, sempre –ou quase sempre – impregnados pela religião. Esta tão tradicional cultura islâmica está em alta na Capital. Duas mostras,ambas com o objetivo claro de romper estereótipos e exaltar a beleza das obras de arte e objetos, estão em cartaz.


Uma delas é Islã:Arte e Civilização, que permanece até o dia 27 no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). A outra é Miragens, cuja temporada vai até 3 de abril no Instituto Tomie Ohtake. Ambas são gratuitas.


Islã: Arte e Civilização conta a história de países islâmicos a partir de acervos diversos. Cerca de 350 objetos e obras são os narradores de uma viagem por mais de 13 séculos de história. A foto ao lado é de um prato de cerâmica, originário da Síria do século 14, com a inscrição felicidade.


Há de tudo: mobiliário, tapeçaria, vestuário,armas,armaduras, utensílios, mosaicos, cerâmicas, objetos de vidro, iluminuras,pinturas, caligrafia e instrumentos científicos e musicais.


“Fui aos países de origem, tive acesso às reservas técnicas em busca do que me ajudasse a honrar a proposta de apresentar o cotidiano: como são as
confraternizações, como estudam, como se reúnem. Há uma linha orientalista que retrata os países islâmicos de forma igual. Mas eles são diversos, até mesmo na política e na sociedade”, diz um dos curadores da mostra,Paulo Daniel Farah.


Por isso, junto a Rodolfo Athayde, Farah buscou peças de vários países. Há acervos da Síria, oriundos do Museu Nacional de Damasco, Museu Aleppo e Palácio Azem; e do Irã, representado por obras do Museu Nacional do Irã, Museu Reza Abassie, Museu do Tapete.


Completam a mostra artefatos que pertencem à Biblioteca e Centro de Pesquisa América do Sul – Países Árabes (BibliASPA), originárias do Marrocos, Mauritânia, Líbia, Líbano, Burkina Faso e do Brasil. A Casa das Áfricas contribuiu com itens de Mali, Niger e Nigéria.


Quatro anos foram necessários para fechar toda a programação da mostra.“É a maior já realizada na América Latina sobre cultura islâmica”, sentencia Farah.


Entre os destaques está uma sala dedicada só à caligrafia, na qual forma e conteúdo se misturam sobre diversas plataformas, entre elas o metal e o tecido.


“De acordo com a ocasião, eles utilizam um tipo de caligrafia diferente. Temos uma pedra de basalto com inscritos que datam da primeira dinastia islâmica (séculos 8 ao 13) e também manuscritos feitos por muçulmanos trazidos ao Brasil como escravos. Além de exemplos da escrita contemporânea”, destaca o curador.


Mais de duas toneladas de obras trazidas do Palácio do Deserto Al Hayr Al Gharbi (Síria) mostram a transição na arte islâmica. Em seus primeiros momentos, ela dialogava com a arte bizantina, especialmente pela representação humana e animal. Isso se tornaria cada vez menos
comum. Os artistas passaram a dar mais espaço a outros motivos, especialmente caligráficos, geométricos e florais.


“Alguns artistas islâmicos ainda fazem a representação humana e de animais. Mas poucos. Não é aconselhável, de acordo com a religião, para não limitar a criação de Deus”, explica Farah.


As figuras humanas e de animais aparecem com mais freqüência nas iluminuras (pinturas decorativas aplicadas junto às letras capitulares de livros), embora seu objetivo seja o de funcionar como auxílio didático para compreensão do texto.

DIVERSOS OLHARES


Miragens, em cartaz no Instituto Tomie Ohtake, retrata, em 58 obras, a visão de 19 artistas islâmicos ou descendentes sobre seus países de origem. Os trabalhos também comentam o modo como elementos da cultura e identidade circulam entre ocidente e oriente. A imagem ao lado faz parte da série Alvo, da palestina Laila Shawa.


“Alguns remetem a tradições milenares, como a forma de usar números, a religião. Outros mostram eventos recentes da vida política”, assinala Paulo Miyada, coordenador do núcleo de pesquisa e curadoria do Instituto Tomie Ohtake.


As obras,de técnicas tradicionais a videoinstalação, são oriundas de coleções européias e norte-americanas, e de acervos de Paris, Istambul e Damasco.


A exposição foi idealizada por Rodolfo Athayde e a curadoria é de Ania Rodríguez. Miyada destaca o trabalho da fotógrafa Shirin Neshat, que expõe a série Mulheres de Alá. “Passados muitos anos, ela voltou ao Irã para fotografar mulheres que aparecem mudas, com véu bem fechado e caligrafia sobre a pele. A artista mostra a falta de comunicação naquele país.Em alguns casos, de forma metafórica, a mulher aparece com um cano de arma na orelha em vez do brinco”.
O artista plástico Mounir Fatmi, com sua obra inédita Entre Linhas, também chama a atenção. Sobre uma lâmina de serra grande, há inscritos caligráficos com trechos do Corão. As inscrições contrastam com a superfície, dando a entender que os interlocutores podem interpretá-las de uma forma ameaçadora.


“As obras refletem que, para além dos estereótipos, a cultura é profunda, tem várias camadas. Caligrafia não é só uma maneira de escrita. Há muita tradição entre os símbolos e a forma de ver o mundo”, finaliza Miyada.

O CCBB fica na Rua Álvares Penteado, 112, Centro. Funciona das 10 às 20horas. Fone(11) 3113-3651. O Instituto Tomie Ohtake fica na Avenida Faria Lima, 201. Funciona de terça a domingo, das 11 às 20 horas. Informações pelo fone (11)
2245-1900.


Matéria publicada no jornal A Tribuna em 13 de março de 2011.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

O grito autobiográfico de Wendy Guerra

Segue a resenha sobre o livro Nunca Fui Primeira-Dama, da cubana Wendy Guerra. Escrevi esse texto para o curso de Jornalismo Cultural, ministrado no Espaço CultCasper pelo jornalista Daniel Piza, de O Estado de S.Paulo.


Difícil discernir o que é ficção e realidade no livro Nunca Fui Primeira-Dama (Benvirá, 256 páginas), segundo romance da também poeta cubana Wendy Guerra. Ao utilizar diversos recursos de narrativa (diários – que já usou em seu primeiro romance, Todos se Van –, transcrição de programas de rádio, radionovela, cartas e anotações), a autora traz o público para bem perto de si e do povo cubano pré e pós-revolução de 1959, ao escrever grande parte do livro em primeira pessoa e em tom confessional, sob o alter ego Nadia Guerra.

A história gira em torno de Nadia, uma artista plástica e radialista que vive com o pai, já que a mãe, Albis Torres, foi embora. fugindo da revolução de Fidel Castro, quando ela tinha apenas 10 anos – algo que realmente aconteceu. Nadia começa a se questionar a respeito de como seria sua mãe, também radialista, e decide procurá-la.
A facilidade com que Nadia encontra a mãe, em Moscou, traz ao leitor a sensação de incredulidade, já que, para tanto, ela se corresponde por cartas com antigos amigos de Albis que mal sabiam o paradeiro dela. Após o encontro de Nadia com a mãe, que não mais anda e é vítima do Mal de Alzheimer, o romance dá uma reviravolta: Nadia quer saber quem realmente foi sua mãe.

Para isso, tenta trilhar o mesmo caminho de Albis. Inclusive, relaciona-se sexualmente com um ex-amante de sua mãe, Paolo, em um momento que Nadia considerava epifânico devido ao objetivo que ela tem (de descobrir quem era Albis), mas que não é alcançado. Mais tarde, Nadia descobre que este homem é o seu verdadeiro pai.

Quando consegue trazer a mãe de volta a Cuba, Nadia fica em segundo plano no romance. É a história de Cuba (principalmente antes e pouco após a revolução de 1959) que vem à tona, a partir de anotações e gravações que a mãe dela trouxe e do original de um livro que escreveu sobre Celia Sánchez, a mulher que esteve ao lado de Fidel Castro durante a revolução e que hoje muitos apontam como sendo amante dele, embora o livro de Wendy não diga isso de forma direta. Na vida real, Albis Torres fugiu de Cuba após terem destruído o projeto do livro sobre Celia.

Somente na terceira parte da obra o nome Fidel é citado. Em entrevistas, Wendy Guerra diz que não tinha interesse em fazer críticas ao governo. Difícil de acreditar. Afinal, desde o início da obra, isso é feito de forma indireta. Nadia não fala de ações governamentais que possam ter prejudicado a população, mas descreve como o povo vive e o mostra como vítima, embora não diga de forma direta quem é o seu algoz. Sutilezas no texto tornam-se críticas ácidas aos olhos do leitor mais atento. A respeito de uma instalação sua, Nadia escreve: “Os jornalistas comentam a Biblioteca Branca que construí, um lugar imaculado no qual livros, papéis, documentos, lombadas e capas estão em branco. O mobiliário pronto para ser lido, pronto para informar; em compensação, não há nada dentro dele”. Encontra-se muito de Wendy nessa frase, já nenhum de seus cinco livros (três de poesias e dois romances) foi publicado em Cuba.

Em seu diário, Nadia faz reflexões acerca da vida da população, o que leva o leitor a também pensar a respeito do assunto. “Juntos, cultivamos a arte da ‘perda necessária’. Mas as perdas são necessárias?” Nadia não se propõe a dar respostas, apenas lança questões como se estivesse desesperada para que alguém lhe respondesse.

Dessa forma, Wendy cumpre, em parte, o que já disse em entrevistas, de que o livro foi escrito “para os cubanos e pelos cubanos”. “Desde menina, repito seus nomes como um robô”, diz Nadia acerca dos heróis da revolução.
Não esquecendo o lado poeta, do qual Wendy já confessou gostar mais, a autora lança mão de figuras de linguagem, especialmente metáforas, comparações, sinestesias e prosopopeias. Por vezes, o texto em formato de prosa soa como poesia. “Minha dor é salgada” e “som que golpeia a testa” são alguns exmeplos.

Nunca Fui Primeira-Dama também pode servir de ponto de partida para quem deseja conhecer melhor a cultura cubana. Diversos locais, como o Museu de Belas-Artes, e artistas, como Célia Cruz, são citados. Espalhados ao longo de toda a obra, trechos de músicas de artistas cubanos servem como complemento ao assunto narrado.

Em uma passagem do livro, Nadia se revolta contra a censura sofrida pela mãe, impossibilitada de publicar o livro sobre Celia Sánchez. “Pergunto-me quando vão deixá-los sobvreviver nas alfândegas, ou em que momento vão ser editados em Cuba de uma vez por todas. Nem mais um livro escondido, nem mais uma palavra silenciada. Esse é o meu maior desejo como cidadã”. Praticamente um grito autobiográfico de Wendy Guerra.

domingo, 29 de agosto de 2010

Surpresas que a Flip 2010 me trouxe - Ferreira Gullar

Prestes a completar 80 anos, em 10 de setembro, o poeta Ferreira Gullar me surpreendeu bastante na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), onde bateu um papo muito descontraído com Samuel Titan Jr. - para deleite das centenas de pessoas que o acompanhavam na tenda dos autores e no telão (o meu caso). Não sei o motivo, mas ao ver as fotos daquele senhor sisudo, que pouco sorri nas imagens, tinha uma imagem totalmente diferente (e deturpada) deste grande poeta brasileiro, um dos maiores ainda vivos, ao lado de Adélia Prado. Achava-o mal humorado.

A mesa Gullar 80 foi uma das mais bacanas da Flip, pois o entrevistado falou sobre toda a sua carreira de uma forma bem humorada, arrancando risos dos espectadores.

Em um dado momento, ele disse para Titan Jr: "O pessoal fica rindo de tudo o que eu falo, pô!". Talvez esse seja o segredo da longevidade com lucidez. Fazer piada e poema de tudo, até de si próprio.

Em seu novo livro Em Alguma Parte Alguma (Ed. José Olympio), um dos poemas que mais se destacam fala de uma descoberta recente do autor: a de que possuía osso. Ao atender o telefone bruscamente, seu fêmur bateu na bacia. Disso, saiu o poema Acidente na Sala, que declamou durante o bate -papo.

Outra característica que me chamou bastante a atenção é a simplicidade de Ferreira Gullar ao comentar seus erros e acertos na carreira, bem como a modificação que sua poesia sofreu ao longo dos anos. Com a maior naturalidade, mostrou para o público que saiu do movimento concretista por não mais se identificar com aquele tipo de poesia.

Ferreira Gullar mereceu, sem dúvida. todos os aplausos que lhes foram atribuídos após a mesa na Flip. Aplausos de pé, que duraram cerca de 1 minuto e meio.


Veja mais Ferreira Gullar


http://www.youtube.com/watch?v=CC_AHTfqCG8 - Vídeo oficial Flip (vale a pena!!!!!!!!!!)

http://www.youtube.com/watch?v=HdDa81Vd6ak - Saiba mais sobre o poema Acidente na Sala e veja Ferreira Gullar declamando-o



Tá entendendo?*


*Expressão muito utilizada por Ferreira Gullar a cada fim de frase ou explanação.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Surpresas que a Flip 2010 me trouxe - Marcelo Jeneci


Depois de quase dois meses sem atualizar o blog, senti muita necessidade de dividir com vocês alguns bons momentos que passei durante a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).

Não fiz qualquer anotação durante os quatro dias de evento, pois o meu interesse não era reproduzir o que facilmente seria encontrado em outros sites. Dessa forma, deixei o meu coração guiar os temas deste e dos próximos posts.


Começo com um artista que chamou muito a minha atenção durante o show de abertura, cuja atração principal era o cantor Edu Lobo. Para mim, quem brilhou mesmo no palco foi o multiinstrumentista Marcelo Jeneci, que eu não conhecia.


Ele talvez tenha me cativado, a princípio, por tocar acordeon. Fico fascinada quando vejo alguém tirando notas desse instrumento, que considero um dos mais difíceis. Fazendo uma rápida pesquisa na Internet (confesso que não me aprofundei), soube que Marcelo ganhou a primeira sanfona de Dominguinhos. Nada mau, né?


Desde as primeiras músicas, ele me chamou a atenção e olha que ele só tocava o acordeon e fazia segunda voz, junto com outros músicos, para a cantora Renata Rosa. Ah! O show tinha direção do Arthur Nestrovski (diretor artístico da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo).


Mas Marcelo foi além. Cantou algumas canções, acompanhado do acordeon, mas me emocionou bastante ao executar sua última música, ao piano. A música se chama Feito pra Acabar, uma composição própria (com José Miguel Wisnik e Paulo Neves), e, não sei se a melodia ou a letra, possivelmente as duas juntas, me emocionaram logo nos primeiros acordes.


Fiquei com essa canção na cabeça e fiz uma busca no Youtube. Acho que ela transmite a mim a sensação de finitude do ser humano além de questionamentos que não sabemos responder.


Descobri que Marcelo é parceiro do Arnaldo Antunes e que Vanessa da Mata e Zélia Duncan já gravaram suas canções. Sim, meu coração e meus ouvidos não me trairam. Trata-se de um baita músico. E que também toca guitarra.


Abaixo, os links da música no Youtube e a letra






Quem me diz

Da estrada que não cabe onde termina

Da luz que cega quando te ilumina

Da pergunta que emudece o coração

Quantas são

As dores e alegrias de uma vida

Jogadas na explosão de tantas vidas

Vezes tudo que não cabe no querer

Vai saber

Se olhando bem no rosto do impossível

O véu, o vento e o alvo invisível

Se desvenda o que nos une ainda assim

A gente é feito pra acabar

Ah Aah
A gente é feito pra dizer

Que sim

A gente pra caber

No mar

E isso nunca vai ter fim
Uh Uhhh



quarta-feira, 16 de junho de 2010

Peça Dona Flor e Seus Dois Maridos*


Dona Flor e Seus Dois Maridos, um clássico da literatura brasileira oriundo da mente genial de Jorge Amado, tem uma história bastante conhecida. Já foi levada à telona em 1976, pelo diretor Bruno barreto, e à televisão em formato de minissérie, em 1997, por uma adaptação de Dias Gomes, Ferreira Gullar e Marcílio Moraes.

A versão teatral, em adaptação feita pelo diretor Pedro Vasconcelos e pelo ator Marcelo Faria, a intenção é encantar o público com os recursos que o teatro permite e, é claro, trazer a aBahia para bem perto, por meio do Carnaval, da cenografia, dos pratos preparados por Dona Flor e pela trilha sonora.

"No espetáculo, a história é contada desde o início, quando Vadinho e Flor se apaixonam (só no teatro a história começa no início do livro). O público se sente como se estivesse na Bahia. A peça se desenvolve no palco e nos corredores, remetendo às vielas do Pelourinho", conta Faria, intérprete de Vadinho.

A direção musical, assinada por Bruno Marques, é toda baseada na obra de Dorival Caymmi. Na peça, Diogo Brandão interpreta Caymmi e canta, entre outras, Morena do Mar, O Que é Que a Baiana Tem, Acontece Que Eu Sou Baiano e A Vizinha. Parte do elenco o acompanha, em coro.

O espetáculo é um desafio e tanto para os atores. Fernanda paes Leme debuta no teatro.

"Fernanda topou na hora fazer a Dona Flor e era esta a personagem que estávamos procurando: uma mulher forte, mas também doce e delicada. Ela está incrível", comemora Faria.

A Duda Ribeiro, que interpreta Theodoro, o segundo marido de Flor, foi dado o desafio de fazer um personagem sério, extremamente educado. Logo para ele, que veio da comédia.

"Ele encontrou o tom perfeito do personagem", elogia Faria, que precisou se adaptar à malandragem, à dança e ao gingado de Vadinho. Sim, o ator teve de aprender a dançar.


Para quem espera ver Marcelo Faria nu o tempo todo, vale o aviso: em acordo com Vasconcelos, ficou decidido que isso não ocorreria. "Não há necessidade", diz ele, que aparece nu na volta de Vadinho ao mundo dos vivos e no final da peça.

Até 27 de junho, o espetáculo segue em cartaz no Teatro Municipal de Niterói (Rua XV de Novembro, 35, Centro, Niterói, Rio de Janeiro). Sextas e sábados, às 21 horas, e domingos, às 20 horas.
*Adaptado do original publicado no jornal A Tribuna em 31 de julho de 2009.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

100 anos de Pagu. Viva!


Patrícia Galvão. Ou simplesmente Pagu. Um apelido pequeno, dado pelo poeta Raul Bopp, para referir-se a alguém cuja vida não teve nada de diminuta.

Há 100 anos, ela nascia. Por quais motivos tanto é ovacionada? Pagu é uma daquelas mulheres que estava à frente de seu tempo. Seu comportamento poderia ser considerado atrevido por uns, vanguardista por outros.

O certo mesmo é que ela deu a sua contribuição para a sociedade. Seja na cultura, como membro do movimento antropofágico, ou na política, como integrante do Partido Comunista ou, mais tarde, defendendo o socialismo de Trotski.


Como qualquer heroína, Pagu foi presa 23vezes, a primeira ao participar da organização de uma greve dos estivadores em Santos.

Ousada também no amor, Pagu 'roubou' Oswald de Andrade de Tarsila do Amaral, pessoa que a praticamente a acolheu. Ok, não foi uma atitude muito nobre, especialmente para os idos de 1930. Concordo. Com ele, teve um filho, Rudá. O romance durou apenas 5 anos.


Separou-se de Oswald. Para a época, um escândalo, embora Pagu estivesse acostumada a provocar reações nas pessoas. Boas ou más.



Já em 1940, na companhia do novo marido, Geraldo Ferraz, volta para o jornalismo. Em 1941, tem o seu segundo filho, Geraldo Galvão Ferraz.
Os que se intitulam agitadores culturais culturais atualmente nada fazem de novo nessa função. Pagu já fazia isso quando fixou residência em Santos, ao incentivar grupos de teatro amadores.

Antes de morrer, em 1962, devido a um câncer, tentou o suicídio. Ela viajou a Paris para tratar a doença, mas a operação não obteve o êxito que se esperava. Desesperada, tentou se matar. Mas, será que ela queria mesmo morrer?

Aliás, acredito que se a pessoa quer mesmo se matar ela consegue. Se ela não foi capaz de concluir o ato com sucesso, é porque a vontade talvez não fosse tão grande assim.

Como escritora, desenvolveu suas ideias Parque Industrial (1933), com o pseudônimo Mara Lobo; e A Famosa Revista (1945), em colaboração com Geraldo Ferraz.

Com o pseudônimo King Shelter, escreveu contos policiais na revista Detective.

Mais uma informação para completar: foi Pagu quem trouxe as primeiras mudas de soja ao Brasil.

Eles falam de Pagu

Norma Bengell dirigiu o filme Eternamente Pagu em 1988.
Rudá de Andrade produziu um documentário sobre sua mãe.
O cineasta Ivo Branco, com o documentário Eh, Pagu, Eh! (1982)
No filme O Homem do Pau Brasil (1982), Pagu aparece como personagem.
Na minissérie Um Só Coração (Rede Globo, 2004), Miriam Freeland interpreta Pagu.
Livro Pagu: Vida e Obra, de Augusto de Campos (1982)
Pagu – livre na imaginação, no espaço e no tempo, de Lúcia Maria Teixeira Furlani (2001)
Livro Croquis de Pagu – 1929 – e Outros Momentos Felizes que Foram Devorados Reunidos, de Lúcia Maria Teixeira Furlani (2004)
Rita Lee e Zélia Duncan compuseram uma música que trata da mulher forte, vanguardista, que se alia às suas ideias e não ao seu corpo para conquistar o que almeja. Pagu é o título da canção, cuja letra está reproduzida abaixo:


Mexo, remexo na inquisição
Só quem já morreu na fogueira
Sabe o que é ser carvão
Uh! Uh! Uh! Uh!...
Eu sou pau prá toda obra
Deus dá asas à minha cobra
Hum! Hum! Hum! Hum!
Minha força não é bruta
Não sou freira
Nem sou puta...

Porque nem!
Toda feiticeira é corcunda
Nem!Toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho
Que muito homem

Nem!Toda feiticeira é corcunda
Nem!Toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho
Que muito homem...
Ratatá! Ratatá! Ratatá!Taratá! Taratá!...

Sou rainha do meu tanque
Sou Pagu indignada no palanque
Hanhan! Ah! Hanran!Uh! Uh!
Fama de porra louca
Tudo bem!Minha mãe é Maria Ninguém
Uh! Uh!...
Não sou atriz
Modelo, dançarina
Meu buraco é mais em cima

Porque nem!Toda feiticeira é corcunda
Nem!Toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho
Que muito homem...
Nem!Toda feiticeira é corcunda
Nem!Toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho
Que muito homem...(2x)
Ratatá! Ratatatá Hiii! RatatáTaratá! Taratá!...


Ufa! Depois de tudo isso, quem ousaria dizer que ela não teve importância?

domingo, 6 de junho de 2010

Para relembrar Pagu


Um dos principais nomes do movimento Modernista faria 100 anos no próximo dia 9 de junho.

Para celebrar a data e Patrícia Galvão, a Pagu, eventos começam a ser realizados nesta semana.

Na foto acima, Pagu ao lado do filho Rudá na praia, em Santos.
9 de junho, às 19 horas

Abertura Oficial das Comemorações
Local: Casa das Rosas
Av. Paulista, 37 - Bela Vista - São Paulo

A professora Lúcia Maria Teixeira Furlani (que já escreveu livros sobre Pagu e pesquisa a vida da modernista desde 1998) e atriz Miriam Freeland (que interpretou Pagu na minissérie Um só Coração, de Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira) farão a leitura de cartas trocadas entre Pagu e personagens que revolucionaram o mundo das artes e da cultura no Brasil.

Na ocasião, Lúcia Maria vai falar sobre as várias fases de Patrícia, uma mulher de vida tumultuada, agitadora política e cultural de vários tempos.

“Afinal, quem era Pagu? Vamos passar por sua infância, pela adolescência quando já escandalizava as bem-pensantes famílias paulistanas com suas roupas e maquiagem, e até o seu romance proibido com o galã Olympio Guilherme. Em seguida, sua ‘adoção’ pelo casal Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade, que terminou em novo escândalo quando Oswald de Andrade separou-se de Tarsila e acabou casando com a jovem normalista. O nascimento de seu filho Rudá, o encontro com Luiz Carlos Prestes, o ativismo político e até o final de sua vida,com a militância cultural, em Santos, casada com o escritor Geraldo Ferraz”, explica.

De 16 de junho a 18 de julho


Exposição Santos e Pagu
Local: Museu do Café
Rua XV de Novembro, 95, Centro - Santos
Horários: Seg. a Sáb. das 9h às 17h e Dom. das 10h às 17h // Bilheteria aberta até às 16h15
Ingresso: R$ 5,00 – Estudantes e pessoas com mais de 60 anos pagam meia

sábado, 5 de junho de 2010

Ana Cañas e o álbum Hein? *


Ana Cañas mudou. A cantora, que lançou em 2007 o primeiro CD, Amor e Caos, adotou uma levada mais rock'n roll no disco Hein?, lançado no ano passado.

Hein? foi preparado duarnte os dois anos em que Ana esteve na estrada para divulgar o primeiro disco, que continha apenas dez músicas. Para complementar o repertório, buscou canções de ídolos do rock, como Raul Seixas.

"As pessoas diziam que o CD era bom, mas o show era melhor. Comecei a me questionar a respeito disso. Percebi que os meus shows tinham mais atitude Eu era isso", relembra.

Mesmo com o rock mais presente no último trabalho, a cantora refuta qualquer rótulo. "Preocupo-me em ser verdadeira, em fazer boas músicas", diz. Hein? traz duas participações especiais: Arnaldo Antunes na canção Na multidão (composição dele com Ana e Liminha) e Gilberto Gil, que acompanha a cantora ao violão em Chuck Berry Fields Forever.

"Sou fã incondicional de ambos. Tenho muita sorte porque eles foram muito generosos".

Quem intermediou os encontros foi Liminha, que produziu o disco e compôs oito músicas ao lado de Ana, tornando-se um grande parceiro da cantora. Foi ele também que a apresentou a Dadi Carvalho.

"Dadi e eu temos muita facilidade para compor. ele cuida da harmonia e eu, da letra. No disco entraram apenas duas canções nossas (Caçando e Sempre Com Você), mas já fizemos umas oito, Ele é generoso, competente e companheiro", derrete-se.

Uma característica comum às canções de Hein? é o fato de serem mais abrangentes, menos introspectivas que no trabalho anterior. "Cantando um tema mais abrangente, acabo falando mais de mim. Estou mais intérprete", acredita.

Sendo um disco bastante autoral, é de se esperar que as composições sejam da cantora. Mas por que abrir exceção, ao gravar Chuck Berry Fields Forever?

"A letra é maravilhosa e questiona que rock é esse. Adoro as aliterações (repetição de consoantes) e a genialidade de Gil. Também não conhecia outras versões dessa música. Foi um desafio", justifica.


Brincadeira

O CD leva o nome Hein? porque cada vez que Ana falava sobre o trabalho, alguém lhe perguntava que nome daria ao disco. E ela respondia: Hein?, no sentido de como?

Como passar do tempo, percebeu que hein é também uma forma de comunicação. "A palavra expressa uma necessidade de troca. Você não fala hein se não quiser entender o outro", comenta.
* Original publicado no jornal A Tribuna em 16 de setembro de 2009.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Fernanda Takai e a sua versão Nara Leão: "Por causa dela, posso cantar com a minha voz"



Em 2006, a cantora Fernanda Takai mal sabia que o trocar de e-mails com o produtor musical Nelson Motta seria o esto- pim para uma grande mudança em sua carreira ­ e bemsucedida. Naquele ano, Motta deu a ideia de ela gravar um disco solo com canções de Nara Leão, produzido por John Ulhoa, marido de Fernanda. O resto da história todo mundo sabe: o disco Onde Brilhem os Olhos Seus, lançado em dezembro de 2007, foi sucesso de público e de crítica, assim como a turnê Luz Negra, cujo registro está nas versões CD e DVD.

A vontade de regitrar a turnê e o pedido do público pelas músicas que foram incluídas nas apresentações motivaram a cantora a lançar o trabalho, que fecharam o seu projeto solo. Atualmente, ela se dedica de forma integral à banda Pato Fu.

Todas as canções do trabalho solo em estúdio (Onde Brilhem os Olhos Seus) estão no DVD, com arranjos idênticos. "As pessoas gostaram das versões que fizemos e é isso que elas querem ouvir", justifica Fernanda.

A artista teve bastante liberdade para escolher as canções que complementaram Luz Negra. Quem poderia imaginar que ao lado de músicas de Nara Leão estariam Ordinary World, da banda inglesa Duran Duran, ou Ben, sucesso na voz de Michael Jackson?

"A princípio, as pessoas podem estranhar, mas escolhi canções que fazem parte da minha memória. Do tempo em que eu morei na Bahia, trouxe Sinhá Pureza (sucesso de Eliana Pittman). No extra do DVD, tem um clipe de Ritmo da Chuva, música da Jovem Guarda que a minha mãe ouvia muito. São canções que não daria para cantar com o Pato Fu".

Outra canção que se destaca é Kobune, versão japonesa de O Barquinho. A música foi introduzida no show a pedido do público, já que havia sido lançada por Fernanda no mercado japonês. Mesmo assim, a cantora pensou bastante antes de incluí-la no repertório.

"Queríamos mostrar a amplitude do trabalho de Nara Leão e não apresentá-la apenas como musa da bossa nova. No CD, já tinha Insensatez como representante da bossa nova. Mas o arranjo ficou bom, diluído (ao se juntar às demais canções), afirma.


Gravado no Teatro Municipal Manoel Franzem de Lima, em Nova Lima (MG) em maio de 2009, Luz Negra demandou tempo e trabalho. A pré-produção do DVD começou na primeira semana de março de 2009, com a seleção de imagens e de cinegrafistas que, como diz Fernanda, não são meros cãmeras, mas "diretores de vídeo".

"O DVD tem um olhar particular, mas não é um mero registro. O mercado ficou padronizado, eu quis fazer algo diferente, parecido com um filme. Fiquei surpresa com o resultado".

Após atoda a repercussão positiva em torno de sua carreira solo, incitada por Nelson Motta, o que representa Nara Leão para Fernanda Takai?

"Nara e eu temos um pedaço de história em conjunto. Pro meu lado pesa mais que para o dela. Talvez, em alguma biografia de Nata, escrevam, em uma linha, que em 2007, Fernanda Takai gravou um CD em homenagem a ela. Mas, na minha biografia, é um capítulo importante. Por causa dela, posso cantar com a minha voz. Nunca deixarei de falar sobre ela", diz.

* Adaptado do original publicado no jornal A Tribuna em 29 de julho de 2009.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Pedro Mariano e o seu CD, Incondicional


Alívio. Essa foi a sensação experimentada por pedro Mariano quando o seu último CD, Incondicional, foi liberado pela gravadora EMI. Em 2004, quando ficou pronto, novos diretores assumiram a grvadaora e não concordaram com o trabalho. Mariano gravou mais dois CDs, um deles ao vivo, mas nunca se esqueceu daquele trabalho que, em virtude da situação, tornou-se o seu xodó.

"Foram cinco anos de luta. Senti-me frustrado por não trabalhar um disco no qual eu acredito. Por isso, o escolhi para lançar o meu selo, Nau", afirma o cantor. Após uma nova mudança na diretoria, agora sob controle de Marcelo Castelo Branco, a EMI liberou o CD e ele recebeu o nome Incondicional que, para Marcelo, significa duradouro, eterno, pleno. Além disso, ele diz que "não mexeria nesse disco sob condição nenhuma".

O CD tem 13 faixas, a maioria composta por amigos de longa data do cantor, como Jair Oliveira (A Casa da Dor, Colorida e Bela, Memória Falha), Jorge Vercillo (Quase Amor) e Daniel Carlomagno (Procura, Inverno). Outra satisfação do cantor foi gravar músicas de Lulu Santos, Frejat e Samuel Rosa. "Mas hoje estou mais tendencioso a pesquisar gente nova", revela.

Mariano utiliza poucos recursos eletrônicos, que simulam os sons dos intrumentos. "O som tem que surgir a partir de um ser humano tocando. É quando ocorrem os improvisos. Posso usar bateria eletrônica, mas embaixo de uma base tocada", esclarece.

O cantor se empenha também no sucesso de seu selo, Nau. "Agora tenho a gerência sobre o meu marketing e sobre os locais nos quais preciso aparecer. Nas garavadoras, há equipes trabalhando de forma pasteurizada para todos. Isso não funciona bem", acredita.

* Adaptado do original publicado no jornal A Tribuna em 21 de julho de 2009.