segunda-feira, 31 de maio de 2010

Fernanda Takai e a sua versão Nara Leão: "Por causa dela, posso cantar com a minha voz"



Em 2006, a cantora Fernanda Takai mal sabia que o trocar de e-mails com o produtor musical Nelson Motta seria o esto- pim para uma grande mudança em sua carreira ­ e bemsucedida. Naquele ano, Motta deu a ideia de ela gravar um disco solo com canções de Nara Leão, produzido por John Ulhoa, marido de Fernanda. O resto da história todo mundo sabe: o disco Onde Brilhem os Olhos Seus, lançado em dezembro de 2007, foi sucesso de público e de crítica, assim como a turnê Luz Negra, cujo registro está nas versões CD e DVD.

A vontade de regitrar a turnê e o pedido do público pelas músicas que foram incluídas nas apresentações motivaram a cantora a lançar o trabalho, que fecharam o seu projeto solo. Atualmente, ela se dedica de forma integral à banda Pato Fu.

Todas as canções do trabalho solo em estúdio (Onde Brilhem os Olhos Seus) estão no DVD, com arranjos idênticos. "As pessoas gostaram das versões que fizemos e é isso que elas querem ouvir", justifica Fernanda.

A artista teve bastante liberdade para escolher as canções que complementaram Luz Negra. Quem poderia imaginar que ao lado de músicas de Nara Leão estariam Ordinary World, da banda inglesa Duran Duran, ou Ben, sucesso na voz de Michael Jackson?

"A princípio, as pessoas podem estranhar, mas escolhi canções que fazem parte da minha memória. Do tempo em que eu morei na Bahia, trouxe Sinhá Pureza (sucesso de Eliana Pittman). No extra do DVD, tem um clipe de Ritmo da Chuva, música da Jovem Guarda que a minha mãe ouvia muito. São canções que não daria para cantar com o Pato Fu".

Outra canção que se destaca é Kobune, versão japonesa de O Barquinho. A música foi introduzida no show a pedido do público, já que havia sido lançada por Fernanda no mercado japonês. Mesmo assim, a cantora pensou bastante antes de incluí-la no repertório.

"Queríamos mostrar a amplitude do trabalho de Nara Leão e não apresentá-la apenas como musa da bossa nova. No CD, já tinha Insensatez como representante da bossa nova. Mas o arranjo ficou bom, diluído (ao se juntar às demais canções), afirma.


Gravado no Teatro Municipal Manoel Franzem de Lima, em Nova Lima (MG) em maio de 2009, Luz Negra demandou tempo e trabalho. A pré-produção do DVD começou na primeira semana de março de 2009, com a seleção de imagens e de cinegrafistas que, como diz Fernanda, não são meros cãmeras, mas "diretores de vídeo".

"O DVD tem um olhar particular, mas não é um mero registro. O mercado ficou padronizado, eu quis fazer algo diferente, parecido com um filme. Fiquei surpresa com o resultado".

Após atoda a repercussão positiva em torno de sua carreira solo, incitada por Nelson Motta, o que representa Nara Leão para Fernanda Takai?

"Nara e eu temos um pedaço de história em conjunto. Pro meu lado pesa mais que para o dela. Talvez, em alguma biografia de Nata, escrevam, em uma linha, que em 2007, Fernanda Takai gravou um CD em homenagem a ela. Mas, na minha biografia, é um capítulo importante. Por causa dela, posso cantar com a minha voz. Nunca deixarei de falar sobre ela", diz.

* Adaptado do original publicado no jornal A Tribuna em 29 de julho de 2009.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Pedro Mariano e o seu CD, Incondicional


Alívio. Essa foi a sensação experimentada por pedro Mariano quando o seu último CD, Incondicional, foi liberado pela gravadora EMI. Em 2004, quando ficou pronto, novos diretores assumiram a grvadaora e não concordaram com o trabalho. Mariano gravou mais dois CDs, um deles ao vivo, mas nunca se esqueceu daquele trabalho que, em virtude da situação, tornou-se o seu xodó.

"Foram cinco anos de luta. Senti-me frustrado por não trabalhar um disco no qual eu acredito. Por isso, o escolhi para lançar o meu selo, Nau", afirma o cantor. Após uma nova mudança na diretoria, agora sob controle de Marcelo Castelo Branco, a EMI liberou o CD e ele recebeu o nome Incondicional que, para Marcelo, significa duradouro, eterno, pleno. Além disso, ele diz que "não mexeria nesse disco sob condição nenhuma".

O CD tem 13 faixas, a maioria composta por amigos de longa data do cantor, como Jair Oliveira (A Casa da Dor, Colorida e Bela, Memória Falha), Jorge Vercillo (Quase Amor) e Daniel Carlomagno (Procura, Inverno). Outra satisfação do cantor foi gravar músicas de Lulu Santos, Frejat e Samuel Rosa. "Mas hoje estou mais tendencioso a pesquisar gente nova", revela.

Mariano utiliza poucos recursos eletrônicos, que simulam os sons dos intrumentos. "O som tem que surgir a partir de um ser humano tocando. É quando ocorrem os improvisos. Posso usar bateria eletrônica, mas embaixo de uma base tocada", esclarece.

O cantor se empenha também no sucesso de seu selo, Nau. "Agora tenho a gerência sobre o meu marketing e sobre os locais nos quais preciso aparecer. Nas garavadoras, há equipes trabalhando de forma pasteurizada para todos. Isso não funciona bem", acredita.

* Adaptado do original publicado no jornal A Tribuna em 21 de julho de 2009.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Biblioteca Mário Faria, o reduto cultural do Posto 6*


Os amantes da leitura, sejam eles turistas ou moradores de Santos, podem fazer uma pausa em sua caminhada pelo jardim da orla na Biblioteca Municipal Mário Faria, localizada no Posto 6. É lá que estão cerca de 12 mil exemplares disponíveis para empréstimo. São livros variados, que agradam a pessoas de todas as idades. Há obras infantis, romances, autoajuda, esotéricas, clássicas, religiosas e até de auxílio ao vestibulando. Além de livros, o local oferece jornais e revistas dos mais variados segmentos, para leitura no local.

Para fazer a retirada, basta cadastrar-se, levando comprovante de residência e um documento. O prazo para devolução é de dez dias, podendo ser renovado, inclusive por telefone, caso não haja nenhuma reserva. Entre os destaques, estão livros que encabeçaram a lista dos mais vendidos, como Cidade do Sol e O Caçador de Pipas, ambos de Khaled Hosseini. Para os turistas, a opção é trocar uma obra por outra, já que, por vezes, eles ficam menos de dez dias na Cidade.

Os números a respeito do funcionamento da biblioteca do Posto 6 são surpreendentes: 2 mil livros são retirados por mês para empréstimo, em média; 10.059 usuários foram cadastrados na unidade até dezembro de 2008 e 25.268 empréstimos foram realizados durante o ano de 2008. O número de empréstimos mensais gira em torno de 1.500 a 2 mil.

"As pessoas nos pedem sugestão de livros. A gente pergunta qual foi o último livro que a pessoa leu para ter uma idéia do que ela gosta", diz a bibliotecária Sueli Aparecida Lopes. Os livros são oriundos de doações e compra. No caso das doações, algumas obras são enviadas a outras unidades municipais. Já os livros machucados passam por restauro.

O aposentado Joaquim da Silva Gomes costuma frequentar a biblioteca. O foco de sua procura são jornais e revistas. "Gosto daqui. O ambiente é bom, as pessoas são gente finíssima. Saí de casa às 8h30 e cheguei antes da biblioteca abrir. Eu leio muito".


SERVIÇO:

A BIBLIOTECA FICA NA AVENIDA BARTOLOMEU DE GUSMÃO, S/Nº (EM FRENTE À RUA ALEXANDRE MARTINS, NO BAIRRO APARECIDA). O HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO É DE SEGUNDA À SEXTA-FEIRA, DAS 9 ÀS 19 HORAS, E AOS SÁBADOS E DOMINGOS, DAS 9 ÀS 13 HORAS. O TELEFONE DE CONTATO É O 3231-8713.


Adaptado do original publicado no jornal A Tribuna em 26 de janeiro de 2009.

sábado, 15 de maio de 2010

Morre Toninho Dantas, aos 62 anos


Não conheci Toninho Dantas pessoalmente. Lembro-me de já tê-lo visto, mas não fomos apresentados nem o entrevistei.

Na verdade, eu teria a oportunidade se não fosse transferida do Caderno Galeria, de A Tribuna. Tirei férias em setembro do ano passado, bem no mês do Curta Santos, o festival de curtas metragens que Toninho Dantas capitaneou por 7 anos.

Sabe o que sobra? Um vazio. Daqueles em que você pensa: perdi a oportunidade de entrevistar, de conversar, trocar uma ideia...

A vida é tão curta, tão breve, e vai embora sem aviso... Às vezes, a gente acha que há tempo para tudo, mas quando ocorre uma morte como essa, repentina, você pensa: não há tempo. O tempo é agora!

Perde-se a oportunidade... Quando Plínio Marcos morreu, eu tinha 14 anos e nem sabia o que faria da vida. Mas sempre quando leio algo sobre ele, fica o gostinho: 'como teria sido se eu o entrevistasse?'. E é justamente essa a sensação que experimento com Toninho e com muito pesar, afinal eu parecia estar tão perto... Conversava demais com o Diego Santana, que assessorou o Curta Santos no ano passado. Quase todos os dias ele me ligava pedindo nota, divulgação...

Qualquer coisa que eu escrevesse sobre Toninho Dantas neste blog seria algo menor diante da grandiosidade e da importância dele para a cultura santista.

Por isso, prefiro dar voz aos amigos e às pessoas com as quais ele conviveu, porque trarão algo de novo a acrescentar à biografia deste gênio, nascido em Vicente de Carvalho, distrito de Guarujá, há 62 anos.
Vale conferir a entrevista que Toninho concedeu a Ricardo Prado, do site Cinecartógrafo, em março deste ano. Sempre com ideias fervilhando, ele deu pistas de como será o Curta Santos deste ano. Teria sido a última entrevista dele? Não sei.

Veja também a cobertura do site de A Tribuna.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Entrevista om Henrique Goldman, diretor do filme Jean Charles*


Um filme para celebrar a vida e mostrar como é o dia a dia dos imigrantes brasileiros em Londres. Esse foi o objetivo do diretor Henrique Goldman ao filmar Jean Charles, longa estrelado por Selton Mello, que mostra as dificuldades enfrentadas e também alguns trambiques cometidos por quem quer permanecer na capital inglesa. Jean Charles de Menezes é o eletricista brasileiro que foi morto pela polícia britância no metrô, ao ser confundido com um terrorista muçulmano, em 2005. Goldman lançou mão de não atores, inclusive pessoas próximas a Jean, como a prima Patrícia Armani e o ex-chefe Maurício Varlotta, que interpretam a si mesmos na trama. O filme ainda traz atuações de Vanessa Giácomo (Vivian), Luís Miranda (Alex) e participação de Daniel de Oliveira (Marcelo).

O ator Selton Mello fez questão de ir ao local em que Jean foi morto, mas parece que você não queria isso...
Eu queria que os atores vivenciassem as experiências dos personagens, mas não queria que ele pensasse muito na morte do Jean Charles. Queria que isso viesse para o Selton como elemento surpresa.

Como surgiu a ideia do filme?
Logo que o Jean foi assassinado, fiquei muito tocado. E como outros habitantes de Londres, pensei que isso poderia ter acontecido comigo, que sou brasileiro e, embora judeu, tenha cara de árabe. Depois de ouvir as mentiras da polícia sobre as razões que levaram os policiais a dar sete tiros, fomos conhecer os familiares de Jean. Contar a história virou uma necesssidade.

Que mensagem você espera que o filme transmita?
Eu quero que esse filme celebre a vida do Jean e das comunidades brasileiras no exterior.

Fale sobre 0 cuidado que vocês tiveram ao retratar a vida de uma pessoa que existiu.
O filme foi feito em colaboração com a família de Jean. Li oroteiro para os primos e para o irmão, e o filme foi mostrado quando o estávamos editando. Negociamos mudanças.

A participação de Patrícia Armani no filme traz um pouco mais de realidade à trama?
Sim. Houve uma troca de experiências muito importante entre a Patrícia e os outros não atores, que faziam o papel de si mesmos, e com os atores profissionais, que os ajudaram a atuar. Na verdade, os profissionais também foram ajudados a entrar nos personagens.

Quantos não atores participaram do filme?
Em papéis importantes, só a Patrícia e o Murício.

O seu desejo é que o filme passe a quem o assistir uma mensagem alegre...
É, o filme fala a respeito de uma tragédia, mas ao pesquisar a vida de Jean Charles descobrimos que ele era engraçado, mulherengo, gostava de piada e até um pouco picareta, no bom sentido da palavra.

O fato de Jean Charles ter se tornado uma pessoa conhecida garante público ao filme?
Eu acho que o público quer um bom filme. Só o que pode garantir a presença do público é a qualidade e o boca a boca.

* Adaptado do original publicado no jornal A Tribuna em 26 de junho de 2009.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Entrevista com Elton Medeiros, cantor e compositor*


Aos 8 anos de idade, Elton Medeiros compôs sua primeira canção. Mal ele sabia na época que se tornaria um dos grandes compositores de samba do País, e que teria entre os seus parceiros Cartola, Zé Keti, Paulinho da Viola, entre outros. Ainda criança, conheceu Heitor Villa-Lobos, regente do coral infantil no qual cantava. Mais tarde, tornou-se amigo de Pixinguinha. Com 79 anos de idade, o compositor carioca mostra vitalidade e lucidez com questões do passado e do presente. Na entrevista a seguir, ele fala sobre o cenário musical, seus grandes amigos, sua carreira e uma outra paixão: o Carnaval.

O senhor chegou a ser aluno de Pixinguinha na Escola Técnica João Alfredo, que frequentou na adolescência?
Não, fui amigo de Pixinguinha, apesar da nossa diferença de idade. Ele lecionava na escola, mas eu tocava saxofone barítono e ele era professor do curso de regional e ensinava violão, cavaquinho e flauta. Pixinguinha iniciava alguns alunos na arte de tocar choro, de acordo com a formação do Joaquim Antônio da Silva Calado: dois violões, um cavaquinho, uma flauta e um pandeiro.

Como vê a homenagem prestada a Pixinguinha por meio do Dia Nacional do Choro?
É um reconhecimento da importância dele como um executante maravilhoso da música brasileira, do choro. Ele foi um dos maiores flautistas do Brasil. Muita gente não o conheceu tocando flauta. Depois que ele sofreu enfarto, passou a tocar saxofone, porque não tinha mais embocadura para tocar flauta.

O senhor tem novos projetos pela gravadora Biscoito Fino?
Gravei meu último disco, Bem que Mereci, em 2006, pela Biscoito Fino. A Olívia Hime (dire- tora musical da gravadora) e a Maria Lúcia Rangel (jornalista) estão com um novo projeto para fazer um disco comigo. Estou aberto a qualquer possibilidade de trabalho. Foi muito prazeroso fazer o Bem que Mereci pela Biscoito Fino, com produção da Luciana Rabello e com músicas minhas cantadas por mim. Fiz uma homenagem ao Zicartola, uma casa de shows em que Cartola era mestre de cerimônias e Dona Zica cuidava da culinária.

O Zicartola foi caracterizado por um movimento musical também, né?
O Zicartola foi um reduto de resistência política e cultural. Ele surgiu em uma época política muito conturbada e, naquela época, você ligava o rádio e só ouvia iê-iê-iê e bolero. Quando você percebe dois gêneros alienígenas tomando conta da programação de um país, você tem a sensação de que este país está acabando, que sua cultura está se esvaindo. Os pessimistas achavam que não tinha jeito. Eu achava que tinha jeito, mas me perguntava: que jeito vai ter e quando vai ter? Será que verei a música brasileira reagir ao iê-iê-iê e ao bolero? Mal sabia eu que participaria de um movimento, o Zicartola, que fez ressurgir a gafieira, as rodas e as casas de samba. O João do Vale cantava música nordestina e a Clementina de Jesus, partido alto, lundu e jongo.

E hoje, existe um movimento parecido com o Zicartola ou os músicos estão mais apáticos?
Notamos que há de um lado uma juventude muito alienada e de outro, uma muito interessada em aprender e preservar a cultura brasileira. Há uma juventude imensaestudando música. Os alienados são produto das ideias que a mídia impõe, por meio da televisão e do rádio: o tipo de música, de comportamento e composição fora da realidade brasileira.

A sua primeira composição gravada foi Falta de Queda, uma parceria com Ari Valério, pelo Jamelão, em 1958. Só depois que o senhor veio a gravar as suas composições...
Eu não me considero cantor. Depois que Jamelão gravou, a escola de samba Aprendizes de Lucas gravou uma música minha, depois outros cantores começaram a gravar como Elizeth Cardoso e Dalva de Oliveira.

O senhor fundou três escolas de samba (Tupi de Brás de Pina, Unidos de Lucas e Quilombo) e é um dos padrinhos da ala de compositores da Portela. O Carnaval mudou nas últimas décadas?
O Carnaval é mutante mesmo. Sofre influência, às vezes danosa, da mídia e assimila elementos alienígenas, que são da cultura brasileira, mas não têm nada a ver com a cultura da região. E assimila por força da divulgação dessas culturas pelo rádio, pela televisão e pelos discos. A mídia se encarregou de mesclar o Carnaval do Rio com outras manifestações, que não eram carnavalescas.

O senhor sempre teve ao seu lado grandes parceiros nas composições, como Cartola, Zé Keti e Paulinho da Viola. Há alguma curiosidade sobre eles para contar?
Eles já são a própria curiosidade. A cada encontro e em cada música, as curiosidades ocorriam em cada verso, em cada trecho melódico.

O senhor teve contato com Heitor Villa-Lobos quando cantava no coral infantil regido por ele...
Nunca tive contato direto com a pessoa Heitor VillaLobos. Ele regia lá e eu cantava aqui. Já o Pixinguinha foi meu amigo, eu frequentava a casa dele e gostava de conversar com ele. Várias vezes saí da minha casa ou do meu trabalho para ir ao Bar Gouveia conversar com Pixinguinha. Jamais conversei com Villa-Lobos, mas foi por falta de oportunidade de me aproximar. Talvez eu tivesse um respeito exagerado. Ele não ia dar bola a um garoto de canto orfeônico.
*Adaptado do original publicado no jornal A Tribuna em 5 de maio de 2009.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

John Pizzarelli, um velho caso de amor com a MPB


Em sua última visita ao Brasil, em meados de 2009, onde realizou shows em São Paulo e em Santos para a turnê do With a Song in My Heart (2008), o cantor e guitarrista norte-americano John Pizzarelli reiterou o seu amor pela música brasileira. Ele, que gravou o CD Bossa Nova (2004), não descarta realizar outra gravação em homenagem à MPB.

"Penso em fazer um novo trabalho com música brasileira, mas não sei se em CD ou em DVD. Seria gravado no Brasil. Pretendo convidar artistas para tocar comigo", revela.

E quem seriam esses artistas? "Os que disserem sim", brinca Pizzarelli, demonstrando bom humor, para depois emendar com nomes de peso. "Milton Nascimento, Toninho Horta, Chico Buarque, João Bosco...", diz ele, que também é fã de João Gilberto.

Aliás, o CD With a Song in My Heart, homenagem ao músico e compositor norte-americano Richard Rodgers, conta com a participação de César Camargo Mariano no piano.

No entanto, não se pode afirmar que a música brasileira fará parte do próximo trabalho do norte-americano, já que nem ele sabe o que ou quem irá homenagear. "Tenho muitas ideias. Não sei se será sobre um compositor. Não há nada definido", afirma Pizzarelli, que já homenageou grandes nomes da música internacional, como o grupo The Beatles, Nat King Cole, que julga ter sido o culpado por ele seguir a carreira artística, e Frank Sinatra, para o qual abriu um show ainda no início da carreira.

"Foi ótimo tocar com o maior músico (Sinatra), usufruindo da qualidade e da melhor estrutura (técnica)", rememora ele, que admira também Billy Joe, James Taylor e Tony Bennett.

(Nota: O mais recenete trabalho de Pizzarelli, Rockin' in Rhythm (2010) é um tributo a Duke Ellington, compositor de jazz morto em 1974)


TALENTOS

Além de músico, Pizzarelli se aventura na carreira de radialista, com o seu Radio Deluxe With John Pizzarelli, programa no qual, além de tocar músicas, recebe convidados especiais para um bate-papo e para tocar ao vivo. Já estiveram com ele Liza Minnelli, Regis Philbin, Peter Cincotti, entre outros. A atração éco-apresentada pela mulher de Pizzarelli, Jessica Molaskey.

"É ótimo tocar no rádio as músicas que gosto. Me divirto muito. Ninguém diz o que eu devo tocar, é tudo bem informal", conta ele, que afirma ainda não ter se descoberto como um comunicador.

As impressões de Pizzarelli sobre o público brasileiro e, em especial, o de Santos não poderiam ser diferentes. Na cidade, ele chegou a afazer um show em benefício do Educandário Santista e do Albergue Noturno.

"Fico feliz de vir a Santos porque as pessoas conhecem meus discos, além do público comparecer em maior número que nos lugares nos quais costumo me cantar. Também não posso deixar de destacar a paixão que o povo daqui tem pelo futebol", finaliza.

* Adaptado do original publicado no jornal A Tribuna em 9 de julho de 2009.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Entrevista com Daniela Thomas, cineasta e cenógrafa*


Cenógrafa, roteirista, cineasta. Premiada em todas as áreas nas quais atuou. Engana-se quem pensa que Daniela Thomas já fez de tudo. Pelo contrário, ela está cheia de projetos e em todos sente-se como uma novata, com muita energia e pronta para novas descobertas. Filha de Ziraldo e esposa do diretor de teatro e dramaturgo Gerald Thomas, respira arte desde a infância.

O trabalho como cenógrafa ajudou as suas demais atividades?
A facilidade de pular de uma área para a outra está relacionada à maneira pela qual fui criada, no estúdio do meu pai (Ziraldo), que é jornalista, autor infantil e adulto, um show man. Nesse estúdio era muito feliz e não havia distinção entre adulto e criança. Fui influenciada por essa liberdade de criar. A cenografia me deu uma preocupação estética apurada. Mesmo que uma cena esteja emocionante, deve haver (em mim) uma quedinha pelo melhor enquadramento.

Credita-se a Central do Brasil o renascimento do cinema nacional. Você concorda?
Eu acho que sim. O Central acendeu a luz do Brasil no exterior e para os brasileiros. Fez as pessoas despertarem para um filme feito, criado e desenhado no Brasil; que emocionaria e traria novas reações a um público acostumado com o cinema americano. Também abriu as portas para Cidade de Deus, Tropa de Elite e para outros filmes, inclusive o Linha de Passe.

Você acredita que existe preconceito com o cinema nacional?
Cada vez menos. Conversando com o pessoal do Espaço Unibanco, perguntei o que as pessoas estão vendo e me disseram que nessa semana só dava Se eu Fosse Você 2 e Divã. Estamos tentando encontrar a nos- sa voz, ao mesmo tempo criativa, original e que converse com o público. Não fazemos cinema americano e nem queremos, o que é legal. É um cinema cada vez mais próprio, particular. Somos a primeira geração de autores livres, o cinema vai ficar cada vez mais bacana.Linha de Passe deu o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes para Sandra Corveloni... O Festival de Cinema de Cannes recebe de 2 a 5 mil filmes por ano. Ser selecionado entre os 22 que competem já é ótimo. Quem seleciona são pessoas muito criteriosas e conhecedoras de cinema. São mestres da sétima arte. Eles estão muito antenados com a gente. Estão aguardando o nosso cinema.

Conta um pouquinho sobre a parceria com Walter Salles.
A gramática do cinema para o Walter é a coisa mais natural do mundo, como construir uma série de planos que se encaixam e potencializam a emoção de uma cena. Para mim, isso é muito difícil. Tenho mais facilidade de criar um momento emotivo, de lidar com os atores, de criar as sequências, os momentos de emoção do ator. Esse casamento profissional é muito azeitado. Eu me meto muito na câmera e o Walter, com os atores. É difícil dizer onde uma pessoa começa e onde a outra termina. Nosso cinema é colaborativo.

Como está o mercado para quem quer seguir carreira no cinema?
Melhor que nunca. A comunicação é a coisa mais importante que existe e o mercado só faz aumentar. Lógico que quanto mais competição, mais difícil é, mas acho que estamos em um bom momento para quem quer participar do grande boom do vídeo, do cinema, do
teatro e dos eventos. Mas é preciso ter vontade e infinita curiosidade. Fazer perguntas é tão bacana quanto responder. Não perguntar o óbvio e buscar respostas diferentes.

*Adaptado do original publicado no jornal A Tribuna em 2 de maio de 2009.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Profeta Gentileza - Parte III


Vocês não imaginam como é maravilhosa a troca de informações que o blog tem me proporcionado. E é levando em consideração os comentários que resolvi fazer mais umpost sobre o Gentileza. Sim, o assunto está rendendo e, na verdade, merece espaço.
Como bem lembrado pelo blogueiro Fábio Whitaker, o Profeta Gentileza foi homenageado pela Acadêmicos do Grande Rio em 2001, por meio do enredo Gentileza X, O Profeta do Fogo. Um dos mais conceituados carnavalescos do Rio de Janeiro, Joãosinho Trinta, havia acabado de chegar à escola com a missão de fazer um carnaval inesquecível, que sua mente genial seria capaz de proporcionar. Não venceu o Carnaval (ficou em 6ºlugar), mas nem por isso a homenagem ao senhor que andava pelas ruas pregando palavras de amor e respeito ao próximo foi ofuscada e até hoje aquele desfile é lembrado com muito carinho.


"A comissão de frente já veio pegando, representando os astronautas do milênio, e a Grande Rio já começou aí a mostrar como seria o carnaval. O João preparou um carro especial para a Valéria Valença, em que havia uma grua que levava a eterna Globeleza até a arquibancada, até os camarotes. O público delirava", lembrou o diretor de caranval da escola, Milton Perácio, em entrevista ao G1 este ano.


E quem não lembra do astronauta norte-americano Eric Scott levantando voo em plena Sapucaí? Foi desse Carnaval também."Eu acho que vai ficar difícil a Sapucaí ver uma atração como essa, um show como esse por muito tempo. Não houve ensaio. Não havia perigo, ele já era acostumado a isso. A Grande Rio entrou para a história do carnaval depois disso", continuou Perácio.


A seguir, a sinopse do enredo e a letra do samba.


SINOPSE

No alvorecer do III Milênio e em plena Era Espacial, é o exato momento do homem contemplar as mensagens de seres iluminados. Em Niterói, aconteceu a Tragédia de um Circo Destruído pelo Fogo. Dizem, entidades espíritas, que foi o resgate de vidas passadas na Roma Pagã. Abalado com esta notícia, um empresário chamado José Datrino ouviu vozes chamando-o para uma missão espiritual. Ele era um homem atribulado por todos os problemas atuais. Como todos nós, ele estava vivenciando a Idade Média de nossos dias. Vendo o Povo sofrendo, despojou-se de suas riquezas e começou sua peregrinação. Foi chamado de louco e poeta. Plantou flores e distribuiu vinho no local daquele sofrimento. Imortalizou nas Pilastras do Viaduto uma Sabedoria Universal. Começou suas Pregações dizendo: Gentileza gera Perfeição, Bondade a Natureza Amor, Beleza e Riqueza. E com a vibração da Era de Aquarius a Grande Rio pede benção ao Profeta Gentileza com afeto, carinho e emoção. Agradecido meu irmão.

SAMBA ENREDO
Compositores: Carlos Santos, Cláudio Russo, Zé Luiz e Ciro

Novo Milênio
Avança O Homem Para O Espaço Sideral
Em Busca De Mensagem Positiva
Valorização Da Vida, O Amor Universal
Na Arena, Alegria E Dor
Triste Legado Que Roma Pagã Deixou..
Ô..Ô..Ô..Ô.
Pelas Vozes Foi Guiado O Arauto Iluminado
A Mudar O Seu Destino
Renuncia A Ambição
Ao Seguir A Intuição
José Datrino.

Deixa Clarear...
Idade Média Nunca Mais...
Gentileza Anuncia
No Raiar Do Novo Dia
Um Clamor De Amor E Paz

Das Flores A Beleza
Para O Mundo Recriar
O Vinho É A Vida
É Preciso Festejar
Considerado Louco
O Poeta Foi Bem Mais
Deixando Nas Pilastras
As Palavras Imortais
Com A Sabedoria Universal
Pregava Contra O Mundo Desigual
Gentileza Gera Perfeição
Violência Não

Era De “Aquarius”...
Tempo De Amor
A Grande Rio...Iluminou
Profeta Faz Nascer
Do Fogo Alvorecer
Irmão Sol A Verdade É Você

domingo, 2 de maio de 2010

Profeta Gentileza - Parte II


Já que este blog também é construído pelas pessoas que o leem (muito obrigada a todos pelos comentários a respeito do post do Gentileza), darei continuidade ao último assunto aqui abordado.

Em agosto de 1997, a Companhia de Limpeza Urbana do Rio de Janeiro passou uma demão de tinta cinza nos escritos de Gentileza. O motivo alegado: estava retirando as pichações da Cidade. Essa atitude inspirou a canção escrita por Marisa Monte, em protesto.

Dezoito meses se passaram até o início da remoção da tinta e recuperação dos registros. A restauração foi iniciativa da Universidade Federal Fluminense e terminou em 2000.

Como a pintura era do tipo caiação, o método utilizado para a remoção foi lavagem com água de pressão e sabão neutro. Em duas pilastras, havia grafite por cima dos escritos. Nelas, foi necessário fazer decapagem manual para recuperação dos escritos.

O decreto nº 19.188, de 27 de novembro de 2000, assinado pelo então prefeito do Rio de Janeiro, Luiz Paulo Conde, determinou o tombamento de todas as pinturas e escritos de autoria de José Datrino. Qualquer intervenção nas pinturas deve ser autorizada previamente pelo Conselho Municipal de Proteção do Patrimônio Cultural do Rio de Janeiro.


Como já constava na postagem anterior, Marisa Monte gravou a música Gentileza, de sua autoria, no disco Memórias, Crônicas e Declarações de Amor (2000). “O Gentileza tinha deixado mensagens escritas nos pilares de um viaduto. Chamei o Brown e disse que ia mostrar algo chocante. Quando chegamos lá, fiquei muito triste em ver que haviam passado cal por cima, apagando as mensagens. No dia seguinte, escrevi a música. Foi bastante sintomático o fato dessas mensagens de sabedoria serem encobertas em um momento em que o Rio de Janeiro anda tão violento”, disse em uma entrevista dada na época.

Outro que também homenageou Gentileza foi o cantoe e compositor Gonzaguinha, ainda na década de 1980, com uma canção também chamada Gentileza.

Abaixo, seguem as letras
Gentileza (Gonzaguinha)
Ouça a música em http://www.youtube.com/watch?v=2xVHotybpmw





Feito louco
Pelas ruas
Com sua fé
Gentileza
O profeta
E as palavras
Calmamente
Semeando
O amor
À vida
Aos humanos
Bichos
Plantas
Terra
Terra nossa mãe.


Nem tudo acontecido
De modo que se possa dizer
Nada presta
Nada presta
Nem todos derrotados
De modo que não de prá se fazer
Uma festa
Uma festa.


Encontrar
Perceber
Se olhar
Se entender
Se chegar
Se abraçar
E beijar
E amar
Sem medo
Insegurança
Medo do futuro
Sem medo
Solidão
Medo da mudança
Sem medo da vida
Sem medo medo
Das gentilezas
Do coração.
Feito louco pelas ruas...


Gentileza (Marisa Monte)
Veja o clipe em: http://www.youtube.com/watch?v=mpDHQVhyUrY

Apagaram tudo
Pintaram tudo de cinza
A palavra no muro
Ficou coberta de tinta
Apagaram tudo
Pintaram tudo de cinza
Só ficou no muro
Tristeza e tinta fresca

Nós que passamos apressados
Pelas ruas da cidade
Merecemos ler as letras
E as palavras de Gentileza

Por isso eu pergunto
À você no mundo
Se é mais inteligente
O livro ou a sabedoria

O mundo é uma escola
A vida é o circo
Amor palavra que liberta
Já dizia o Profeta