Mais de 14 séculos de história e cultura, sempre –ou quase sempre – impregnados pela religião. Esta tão tradicional cultura islâmica está em alta na Capital. Duas mostras,ambas com o objetivo claro de romper estereótipos e exaltar a beleza das obras de arte e objetos, estão em cartaz.
Uma delas é Islã:Arte e Civilização, que permanece até o dia 27 no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). A outra é Miragens, cuja temporada vai até 3 de abril no Instituto Tomie Ohtake. Ambas são gratuitas.


Islã: Arte e Civilização conta a história de países islâmicos a partir de acervos diversos. Cerca de 350 objetos e obras são os narradores de uma viagem por mais de 13 séculos de história. A foto ao lado é de um prato de cerâmica, originário da Síria do século 14, com a inscrição felicidade.
Há de tudo: mobiliário, tapeçaria, vestuário,armas,armaduras, utensílios, mosaicos, cerâmicas, objetos de vidro, iluminuras,pinturas, caligrafia e instrumentos científicos e musicais.
“Fui aos países de origem, tive acesso às reservas técnicas em busca do que me ajudasse a honrar a proposta de apresentar o cotidiano: como são as
confraternizações, como estudam, como se reúnem. Há uma linha orientalista que retrata os países islâmicos de forma igual. Mas eles são diversos, até mesmo na política e na sociedade”, diz um dos curadores da mostra,Paulo Daniel Farah.
confraternizações, como estudam, como se reúnem. Há uma linha orientalista que retrata os países islâmicos de forma igual. Mas eles são diversos, até mesmo na política e na sociedade”, diz um dos curadores da mostra,Paulo Daniel Farah.
Por isso, junto a Rodolfo Athayde, Farah buscou peças de vários países. Há acervos da Síria, oriundos do Museu Nacional de Damasco, Museu Aleppo e Palácio Azem; e do Irã, representado por obras do Museu Nacional do Irã, Museu Reza Abassie, Museu do Tapete.
Completam a mostra artefatos que pertencem à Biblioteca e Centro de Pesquisa América do Sul – Países Árabes (BibliASPA), originárias do Marrocos, Mauritânia, Líbia, Líbano, Burkina Faso e do Brasil. A Casa das Áfricas contribuiu com itens de Mali, Niger e Nigéria.
Quatro anos foram necessários para fechar toda a programação da mostra.“É a maior já realizada na América Latina sobre cultura islâmica”, sentencia Farah.
Entre os destaques está uma sala dedicada só à caligrafia, na qual forma e conteúdo se misturam sobre diversas plataformas, entre elas o metal e o tecido.
“De acordo com a ocasião, eles utilizam um tipo de caligrafia diferente. Temos uma pedra de basalto com inscritos que datam da primeira dinastia islâmica (séculos 8 ao 13) e também manuscritos feitos por muçulmanos trazidos ao Brasil como escravos. Além de exemplos da escrita contemporânea”, destaca o curador.
Mais de duas toneladas de obras trazidas do Palácio do Deserto Al Hayr Al Gharbi (Síria) mostram a transição na arte islâmica. Em seus primeiros momentos, ela dialogava com a arte bizantina, especialmente pela representação humana e animal. Isso se tornaria cada vez menos
comum. Os artistas passaram a dar mais espaço a outros motivos, especialmente caligráficos, geométricos e florais.
comum. Os artistas passaram a dar mais espaço a outros motivos, especialmente caligráficos, geométricos e florais.
“Alguns artistas islâmicos ainda fazem a representação humana e de animais. Mas poucos. Não é aconselhável, de acordo com a religião, para não limitar a criação de Deus”, explica Farah.
As figuras humanas e de animais aparecem com mais freqüência nas iluminuras (pinturas decorativas aplicadas junto às letras capitulares de livros), embora seu objetivo seja o de funcionar como auxílio didático para compreensão do texto.
DIVERSOS OLHARES
DIVERSOS OLHARES

Miragens, em cartaz no Instituto Tomie Ohtake, retrata, em 58 obras, a visão de 19 artistas islâmicos ou descendentes sobre seus países de origem. Os trabalhos também comentam o modo como elementos da cultura e identidade circulam entre ocidente e oriente. A imagem ao lado faz parte da série Alvo, da palestina Laila Shawa.
“Alguns remetem a tradições milenares, como a forma de usar números, a religião. Outros mostram eventos recentes da vida política”, assinala Paulo Miyada, coordenador do núcleo de pesquisa e curadoria do Instituto Tomie Ohtake.
As obras,de técnicas tradicionais a videoinstalação, são oriundas de coleções européias e norte-americanas, e de acervos de Paris, Istambul e Damasco.
A exposição foi idealizada por Rodolfo Athayde e a curadoria é de Ania Rodríguez. Miyada destaca o trabalho da fotógrafa Shirin Neshat, que expõe a série Mulheres de Alá. “Passados muitos anos, ela voltou ao Irã para fotografar mulheres que aparecem mudas, com véu bem fechado e caligrafia sobre a pele. A artista mostra a falta de comunicação naquele país.Em alguns casos, de forma metafórica, a mulher aparece com um cano de arma na orelha em vez do brinco”.
O artista plástico Mounir Fatmi, com sua obra inédita Entre Linhas, também chama a atenção. Sobre uma lâmina de serra grande, há inscritos caligráficos com trechos do Corão. As inscrições contrastam com a superfície, dando a entender que os interlocutores podem interpretá-las de uma forma ameaçadora.
O artista plástico Mounir Fatmi, com sua obra inédita Entre Linhas, também chama a atenção. Sobre uma lâmina de serra grande, há inscritos caligráficos com trechos do Corão. As inscrições contrastam com a superfície, dando a entender que os interlocutores podem interpretá-las de uma forma ameaçadora.
“As obras refletem que, para além dos estereótipos, a cultura é profunda, tem várias camadas. Caligrafia não é só uma maneira de escrita. Há muita tradição entre os símbolos e a forma de ver o mundo”, finaliza Miyada.
O CCBB fica na Rua Álvares Penteado, 112, Centro. Funciona das 10 às 20horas. Fone(11) 3113-3651. O Instituto Tomie Ohtake fica na Avenida Faria Lima, 201. Funciona de terça a domingo, das 11 às 20 horas. Informações pelo fone (11)
2245-1900.
O CCBB fica na Rua Álvares Penteado, 112, Centro. Funciona das 10 às 20horas. Fone(11) 3113-3651. O Instituto Tomie Ohtake fica na Avenida Faria Lima, 201. Funciona de terça a domingo, das 11 às 20 horas. Informações pelo fone (11)
2245-1900.
Matéria publicada no jornal A Tribuna em 13 de março de 2011.
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