quarta-feira, 21 de abril de 2010

Gabriel Villela faz a sua versão de Calígula, clássica e sem atores nus*


Calígula - o implacável imperador romano que perde os limites do poder, da liberdade e da razão após a morte de sua irmã e amante Drusilla - está de volta ao teatro. Desta vez, a obra do escritor franco/argelino Albert Camus (1913-1960) foi montada com texto do dramaturgo e jornalista Dib Carneiro e direção de Gabriel Vilella. Thiago Lacerda interpreta o imperador.


"Não há no Brasil nenhum ator com mais capacidade física, inteligência ou juventude do que Thiago para chegra fazer um minotauro em cena, como é o Calígula", diz o dirtor sobre a escolha. O convite para ser o protagonista da epça chegou a Thiago por meio da atriz Walderez de Barros, que preparou vocalmente o elenco.


"Eu estava buscando, para minha carreira, alguma coisa que fosse como o Calígula, mas não sabia como isso ia acontecer. Precisava de outro tipo de papel que ainda não havia feito, queria vasculhar outros caminhos", arremata o ator. "O convite me encheu de prazer e orgulho. Me senti desafiado e topei de imediato a empreitada. O momento pelo qual estou passando tem sido revelador".


Completam o elenco Magali Biff (Cesônia), Pascoal da Conceição (Cherea), Jorge Emil (senador romano e Ruffus, poeta), Rodrigo Fregnan (Hélicon), Pedro Henrique Moutinho (Scipião, poeta) e Ando Camargo (intendente do tesouro romano e Metellus, poeta).


Sem Nudez


Ao contrário do filme Calígula (1980) e da montagem teatral brasileira com Edson Celulari, na década de 90, a nova versão não terá artistas nus no palco, nem cenas de orgias. De acordo com o diretor, o texto de Carneiro Neto não pede esse tipo de exposição.


"A peça trata de um outro contexto. Não existe a possibilidade de qualquer ator tirar a roupa. Na verdade, eles estão desnudos à palavra".


O figurino é assinado por Villela, em parceria com Maria do Carmo Soares. "É impossível um diretor de teatro ter um senso da totalidade da obra e não conhecer a pele do personagem", justifica Villela.


Antes mesmo de as roupas estarem prontas, Villela adiantou aos atores como seria o figurino, o que os auxiliou no processo de composição do personagem.


Estilo


Caracterizando-se como um diretor barroco, Villela é daqueles que economizam nos recursos cênicos a favor da valorização do texto e das metáforas. O roteiro de Dib Carneiro baseia-se na versão francesa da obra de Camus e busca torná-lo erudito e não tão coloquial como já aconteceu em outras versões de Calígula.


"Existe uma economia consciente e objetiva de elementos que o Gabriel propôs para a peça. É um espetáculo feito para o ator e para a palavra", acredita Thiago Lacerda.


Niilismo


Calígula é a terceira peça de uma trilogia niilista (escola que nega a ordem social estabelecida e conceitos tradicionais) dirigidas por Villela que teve início com Esperando Godot, original de Samuel Beckett (1906-1989), e Leonce e Lena, de Karl Georg Büncher (1813-1837).


Em agosto de 2008, todos os atores se reuniram no sítio do diretor, em Carmo do Rio Claro (MG). Foi lá que receberam o texto da peça e iniciaram pesquisas para a composição dos personagens. Também assistiram à série Roma, que, segundo os atores, serviu como um bom exercício dramatúrgico e fonte de referências. Somente no final de setembro é que os ensaios se iniciaram.


* Calígula vai reestrear em junho e viajará pelo país até dezembro deste ano.


Adaptado do original publicado no jornal A Tribuna em 27 de novembro de 2008.

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